
BENEVOLÊNCIA
“Estas são as contas do Tabernáculo, o Tabernáculo do Testemunho...” (Ex, Cap. XXXVIII, v. 21)
Com esse versículo a Torá inicia a última parashá do Êxodo e resume a contabilidade de tudo que fora usado para a construção do Tabernáculo. O texto bíblico atribuiu ao Tabernáculo o epíteto “Tabernáculo do Testemunho”, despertando, dessa forma, o questionamento natural: testemunho do quê? Entre os vários comentaristas que tentaram elucidar esta pergunta, Rashi nos traz uma explicação inusitada: “Testemunho de que Deus fora benevolente com o povo de Israel após o pecado do bezerro de ouro, fazendo pairar Sua glória sobre eles.” Conforme explicado na parashá Ki Tissá, o pecado do bezerro foi considerado o momento de maior afastamento do povo em relação ao Criador. Esse ato representou a antítese da fé no Deus único. A traição em sua forma mais grave. Atitude de difícil perdão entre os seres humanos. Porém, o Misericordioso pediu para que construíssem o Tabernáculo e, pela dedicação demonstrada, o povo obteve a reparação parcial por aquele erro. Rashi chamou este ato “benevolência” Divina e não “perdão” Divino, pois perdoamos algo quando alguém pede desculpas e se arrepende do que fez. Porém, ser benevolente vai além deste conceito. Somos benevolentes e compreensivos quando alguém ainda mantém uma atitude que é hostil ou incômoda, mas, mesmo assim, aceitamos outra opinião para conviver com essa pessoa. O pecado do bezerro de ouro fez decair o nível moral do povo, cujas conseqüências são sentidas até os nossos dias. Os sábios talmudistas afirmam que todos os deslizes cometidos no mundo até hoje contêm uma pequena parcela daquele pecado (Talmud Bavli – tratado San’hedrin 102a). É possível aceitar essa afirmação se compreendermos que a vontade do povo naquele momento era afastar-se das amarras morais ditadas no monte Sinai, pois, ao trocar Deus por um bezerro inanimado, aliviariam de si a cobrança por um comportamento correto e coerente. Sendo assim, sempre que um ser humano se afasta das regras ditadas pelo Criador, de certa forma evoca o bezerro de ouro, aquele que não exige regras nem comprometimento moral. Já que esse comportamento rebelde e teimoso ainda persistia entre os judeus, a atitude de Deus em relação a seus filhos não fora somente perdoar, mas aceitar e, assim, manter o povo mesmo com seus atuais defeitos. O Tabernáculo passaria a ser, a partir de então, o centro do acampamento e, por esse motivo, era imperativo que representasse justamente um testemunho da benevolência de Deus para com seu povo. Acampar durante vários anos de deserto significava conviver dia e noite com diferentes vizinhos, com diferentes opiniões e pensamentos. Caminhar juntos, estacionar juntos, comer lado a lado e conviver intensamente com pessoas de hábitos e comportamentos distintos, com certeza, teria gerado vários incômodos e atritos. Para amenizar esses conflitos e manter a união do povo, fora escolhido o Tabernáculo. Esse testemunho da benevolência do Criador permaneceria eternamente como o centro do acampamento. E sempre que os conflitos viessem à tona, bastaria olhar para o santuário e lembrar de que Deus fora paciente e benevolente com os defeitos, ainda presentes, do povo. Essa lembrança os levaria a também ser benevolentes e compreensivos com os defeitos do próximo. Nossos sábios explicam que o fato de o homem ter sido criado à semelhança Divina, implica a necessidade do ser humano de tentar imitar seu Criador nas boas qualidades a Ele atribuídas na Torá. “Da mesma forma que Ele é piedoso, seja você também piedoso. Da mesma forma que Ele é misericordioso seja você também misericordioso...” (Mechilta 3ª porção) Concluímos a partir da explicação de Rashi que um santuário inteiro fora erguido como testemunho de uma única característica. Aquela que ajudaria no convívio social vital para as nações. Aquela que manteria unidos os casais, as famílias e o povo. É essa benevolência Divina, a que também devemos tentar imitar.
Pr. Alexandre Augusto
Quadrangular - Itajubá/MG
pastoralexandreaugusto@bol.com.br
Acessem e sejam abençoados!
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